O valor da escassez e da imprevisibilidade

junho 21, 2017

O valor da escassez e da imprevisibilidade

Acierno nasceu no meio do Mediterrâneo, na cidade de Palermo. De acordo com o historiador Fernand Braudel, uma das forças mais importantes para explicar a dinâmica social e cultural do Mediterrâneo em suas origens e ao longo da sua história foi a escassez. A dificuldade. A luta para conseguir que pedacinhos minúsculos de terra ficassem produtivos. Porque onde tem pouco, tem que fazer bastar. Então tem que pensar bem, e fazer melhor com o que a natureza oferece e o homem conquista.

A marcenaria também, por muito tempo, foi a arte da escassez. De saber aproveitar o que tinha, de matéria prima, naquele momento, para fazer o máximo possível. De uma tábua um tampo de mesa, das sobras os brinquedos para as crianças ou os enfeites para decorar a sala. Das sobras de um pé ou de um armário, os utensílios para o lar.

E depois vieram décadas de entusiasmo, otimismo e senso do cheio e do inesgotável... que nos levaram ao mundo de hoje. Onde boa parte da marcenaria vive do conceito de que há uma infinidade de painéis, industriais e padronizados, e que para fabricar algo se parte sempre de uma chapa de MDF nova de 275x185 cm. E se quebrar, na produção ou no uso em casa, joga fora, pega outra, faz outro. Armários, mesas, aparadores descartáveis.

Nossa visão é um pouco diferente. Porque em larga escala, nada é inesgotável. Assistam, mesmo se não tiverem crianças pequenas por perto, à adaptação em desenho animado do clássico "Lorax" do Dr. Seuss: um dia, as arvores acabam.

Por isso, nossos móveis não são apenas móveis de design assinado - muito mais importante, são móveis sustentáveis, cuja madeira é oriunda de manejos sustentáveis que auditamos pessoalmente e presencialmente na região Norte, cujo processo de fabricação e transporte é revisado regularmente para minimizar desperdícios e descartes, e que passam e reforçam a mensagem de que a floresta em pé gera empregos e riqueza.

Porque cortar arvores, se pode. Claro que se pode. Mas sempre tendo em mente que são um recurso escasso, por mais que pareçam infinitos. Então é para cortar os que - saindo da floresta - vão deixar espaço para outros crescerem e se reproduzirem. Respeitando a dinâmica natural da floresta.

O que que isso muda, no nosso processo de design? Tudo. Em vez de desenhar móveis no computador para depois se perguntar "será que isso fica bom nessa ou naquela madeira?" a gente escolhe as madeiras que são retiradas dos manejos sustentáveis - e só depois decide o que fazer com elas. Desenhamos nossos móveis - aqui na mesa de projetos em São Paulo, na produção em Ariquemes e em dezenas de estúdios de arquitetos e designers parceiros no Brasil e na Europa - em função da beleza natural da madeira. Um pouco como fazem os mais talentosos chefs mediterrâneos, há inúmeras gerações: o cardápio do dia depende do que o mar decidiu oferecer hoje. E a beleza da sua sala de estar (ou do seu quarto de crianças, ou da sua cozinha sob medida...) dependerá do que a floresta recomenda.

Escassez e imprevisibilidade são combustíveis preciosos, para o processo criativo. Alguns dos nossos produtos novos, que vamos lançar muito em breve, nasceram de sobras. Um pouco como os bichos de madeira que meu sogro torneia para minha filha, na Austria: sobrou um toquinho de nogueira? muito bem, não coube um camelo, mas deu para fazer um pinguim. O vizinho cortou um velho pé de damasco? deu para fazer um coelhinho. No nosso caso, a partir das sobras das mesas de jantar maciças da nova coleção conseguimos desenvolver uma linha completa de acessórios de cozinha.

E o que que isso muda no preço? Depende de como olhar. No valor caixa, agora e já, certamente nossas peças custam um pouco mais do que a média de mercado (mas ainda muito, muito menos do que certas peças que se encontram por aí com preços inexplicáveis, e que de "design assinado" tem no máximo a pretensão de marketing). Mas se olhar pela duração no tempo, os móveis Acierno são de longe os móveis mais baratos do mercado. A vida útil de uma mesa de jantar Acierno não se mede em anos, e sim em gerações. Vamos comparar com os poucos anos de vida dos móveis "abundantes e baratos"? Pois é. No final das contas, um bom negócio mesmo é algo que dura mais, e não algo que se paga menos.

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Carlo





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