O valor da persistência

novembro 10, 2016

O valor da persistência

...e durante a noite descobrimos que o próximo presidente dos Estados Unidos é alguém que - entre outras declarações mais ou menos controversas - repetiu em diversos contextos que as mudanças climáticas são uma mentira.

Não que de resto a gente concorde com ele - a questão do respeito da dignidade humana "independente de origem, cor da pele, religião, género, orientação sexual e idéias políticas", para usar as palavras de Angela Merkel, é um valor crucial da nossa empresa.

Mas a questão ambiental é o coração do nosso esforço de sermos uma empresa diferente. Então é justo que este post seja escrito e publicado hoje.

Vale conferir a obra "Overspill: Universal Map" na 32a Bienal em São Paulo, uma das mais interessantes da exposição. Entre outras (assustadoras) informações e observações sobre os principais problemas ambientais, encontrei uma nota sobre desmatamento. Escrevem os autores que a falsificação de documentos de origem florestal é uma prática extremamente frequente.

Bom, fico feliz que esteja na parede da Bienal neste momento, para todo mundo ler: eu ando falando a mesma coisa há mais de dois anos, antes até de abrir a porta da Acierno ao público. Infelizmente, pedir se uma madeira é "certificada" significa muito pouco. Porque certificado falso não é só fácil de obter, é até barato. E, por sinal, é obrigatório por lei, tanto quanto a nota fiscal.

O que realmente faz a diferença não é a papelada: é o comportamento empresarial. É controlar todas as etapas para verificar que realmente mercadorias e procedimentos sigam as leis e as melhores práticas. É ir de verdade para a floresta verificar como os fornecedores se comportam. É escolher tipos de madeira que a natureza sugere nesta estação, e enfrentar o desafio de descobrir texturas e características sempre novas, em vez de ficar buscando - custe o que custar - sempre a mesma meia dúzia de acabamentos já conhecidos. É criar emprego nas regiões amazónicas, em vez de só extrair e depois processar a milhares de km de distância, porque um marceneiro treinado sabe muito bem que só terá marcenaria enquanto tiver madeira, e só terá madeira enquanto tiver floresta.

Tá, ok, então tem um jeito de fazer direitinho. Mas isto não encarece? Claro que encarece. Só um pouco, na verdade, mas enfim, fazer a coisa certa tem custo. E o desafio da nossa equipe é ganhar eficiência em outras dimensões (de processo, de desenho) de maneira a que esse aumento de custo seja mais do que compensado.

Aí chega um malandro e diz "muito bem, fez economia em outras dimensões, mas ainda usar madeira auditada presencialmente por vocês é mais caro do que madeira ilegal, certo? então pega a ilegal e me dá um desconto". Acham que estou de zoeira? Aconteceu mesmo. Evidentemente recusei de trabalhar com o malandro em questão e recomendei que procurasse outra empresa. Mas aquele dia deu um pouco de tristeza: como pode ter gente assim?

Hoje também sinto um pouco dessa mesma tristeza: como pode ter gente que acha que mudança climática é mentira dos chineses? Bom, tem. Tem até o suficiente para eleger um presidente, veja só. E o único jeito de lidar com isso é insistir. Perseverar. Continuar. Fazer a coisa certa demanda tempo, paciência, paixão, persistência.





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